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Aforismos de Confúcio


Fonte: Alfredo Doeblin, O Pensamento vivo de Confúcio. São Paulo: Martins, 1969


1. Disse o Mestre: “Não é agradável estudar com perseverança e constante aplicação?”.
“Não é delicioso ter amigos que chegam de lugares distantes?”.
“Não é um homem de completa virtude aquele que não se preocupa quando os homens não se preocupam com ele?”.
2. Disse o Mestre: “Se o douto não é grave, não conseguirá que o venerem e sua ciência não será sólida”.
“Considerai a fidelidade e a sinceridade como princípios fundamentais”.
3. “Não tenhais amigos, que não sejam iguais a vós”.
“Quando tiverdes defeitos, não receeis abandoná-los”.
4. Disse o Mestre: “Observa o que um homem faz”.
“Acompanha seus argumentos”.
“Examina em que se apóia”.
“Como pode um homem ocultar seu caráter?”
5. Disse o Mestre: “Se um homem utiliza seu antigo conhecimento para adquirir constantemente outro novo, pode ser mestre dos outros”.
6. Disse o Mestre: “O perfeito estudante não é um utensílio”. Zi kung perguntou o que caracterizava o homem su­perior. Disse o Mestre: “Aja antes de falar e logo fale de acordo com seus atos”.
7. Disse o Mestre: “O homem superior é universal e não parcial. O homem inferior é parcial e não universal”.
8. Disse o Mestre: “Ciência sem pensamento é trabalho perdido; pensamento sem ciência é perigoso”.
9. Disse o Mestre: “A um sábio não posso vê-lo ao meu alcance; mas posso ver um homem de verdadeiro talento, e virtuoso, que me satisfaça”.
10. Disse o Mestre: “Não ter e, no entanto, aparentar que se tem. Estar vazio e, no entanto, aparentar que se está cheio. Estar contrafeito e, no entanto, aparentar que se está à vontade. Com semelhantes características é difícil ter constância”.
11. O Mestre pescava com caniço, mas não usava rede. Caçava, mas não alvejava pássaros pousados.
Disse o Mestre: “Pode haver quem aja sem saber por quê. Eu não. Ouvir muito e selecionar o que é bom e conver­tê-lo em ação. Ver muito e guardar na memória o que se viu. Tal é o segundo estágio do conhecimento”.
12. Disse o Mestre: “Será a virtude coisa remota? Quero ser virtuoso. E vede, a virtude está ao nosso alcance!”
13. Disse o Mestre: “O estudante da virtude não tem disputas. Quando se lhe diz que não pode evitá-las, será por meio das armas? Mas complacente ele se inclina ante seus competidores. Assim chega ao vestíbulo, desce e impõe a perda do direito de beber. Nesta disputa é, no entanto, o Chung  zi”.
14. Yen-Yuan perguntou sobre a virtude perfeita. Disse o Mestre: “Dominar-se a si mesmo e recuperar a correção é perfeita virtude. Se um homem pode por um dia dominar-se a si mesmo e recuperar a correção, tudo o que está sob o céu lhe atribuirá a virtude perfeita; A prática da virtude perfeita procederá do homem mesmo ou dos outros?”.
Yen-Yuan disse: “Rogo-te que me digas as etapas desse processo”. O Mestre replicou: “Não olhes o que é contrário à correção. Não ouças o que é contrário à correção. Não faças nenhum movimento contrário à correção”. Yen-Yuan disse então: “Embora minha inteligência e minha força sejam deficientes, tratarei de levar esta lição à prática”.
15. Sima Niû perguntou acerca da virtude perfeita.
Disse o Mestre: “O homem de virtude perfeita é cauto e lento em seu falar”.
“Cauto e lento em seu falar! — disse Niû. Será isso o que se entende por perfeita virtude?” O Mestre disse: “Quando um homem sente dificuldade em agir, poderá ser de outro modo do que cauto e lento no falar?”
Sima Niû perguntou sobre o homem superior. Disse o Mestre: “O homem superior não sente inquietação nem medo”.
“Não sentir inquietação nem medo! —disse Niû. “Isso constitui o que chamamos homem superior?”
Disse o Mestre: “Quando o exame interno não descobre nada mal feito, por que há de inquietar-se, que há a temer?”
16. Zi chang perguntou sobre o que constitui a inteligência. Disse o Mestre: “Aquele junto ao qual não alcançam êxito a calúnia que pouco a pouco entra na mente, nem as afirmações que assustam com um ferimento na carne, pode ser chamado verdadeiramente inteligente. Sim, aquele com o qual não alcançam êxito a calúnia que envenena nem as afirmações que assustam pode ser chamado previdente”.
17. Zi kung perguntou: “Que dizes de um homem amado por todas as pessoas de sua vizinhança?” Replicou o Mestre: “Nem por isso podemos conceder-lhe nossa aprovação”. “E que dizes daquele que é odiado por todas as pessoas de sua vizinhança?” Disse o Mestre: “Nem por isso podemos deduzir que seja mau. Melhor do que nenhum desses dois casos é que os bons da vizinhança o amem e os maus o odeiem”.
Disse o Mestre: “O homem superior é fácil de servir, mas difícil de agradar. Se tratardes de agradá-lo de qualquer modo que não esteja de acordo com o que é justo, não lhe agradareis. Mas em sua utilização dos homens, emprega-os de acordo com sua capacidade. O homem inferior é difícil de servir, mas fácil de agradar. Se tratardes de agradar-lhe, embora de modo que não esteja de acordo com o que é justo, pode condescender. Mas em sua utilização dos homens deseja que todos sejam iguais”.
18. Disse o Mestre: “O homem superior possui dignidade natural sem orgulho. O homem inferior possui orgulho sem dignidade natural”.
19. Disse o Mestre: “O firme, o constante, o simples e o modesto estão perto da virtude”.
Zi lû perguntou: “Que qualidade deve possuir um homem para que possa ser considerado douto?”
Disse o Mestre: “Deve ser assim: sincero, exigente e suave. Entre seus amigos, sincero e exigente. Entre seus irmãos, suave”.
20. Disse o Mestre: “Àqueles cujos talentos estão acima da mediocridade pode-se submeter os temas mais falsos. Aos que estão abaixo da mediocridade não se deve submeter os temas mais altos”.
21. Disse o Mestre: ‘O sábio encontra prazer na água. O virtuoso encontra prazer nas colinas. O sábio é ativo. O vir­tuoso é tranqüilo. O sábio, alegre. O virtuoso, longevo”.
Disse o Mestre: “É perfeita a virtude que está de acordo com o Meio Constante. Durante muito tempo foi rara a sua prática entre as criaturas”.
22. Zi kung disse: “Suponha o caso de um homem que beneficia extensamente o povo e que é capaz de ajudar a todos. Que dirás dele? Pode-se dizer que seja perfeitamente virtuoso?”
Disse o Mestre: “Por que falar da virtude unicamente em relação com ele? Não pode ter as qualidades de um sábio? Até Yao e Shun se mostravam solícitos a esse respeito”.
Pois bem, o homem de virtude perfeita, desejando consoli­dar-se a si mesmo, trata de consolidar os outros: desejando engrandecer-se a si mesmo trata de engrandecer os demais.
23. “Ser capaz de julgar os demais pelo que há em nós mesmos. Eis o que se pode chamar a arte da virtude”.
Disse o Mestre: "Unicamente o sábio da classe mais alta e o estúpido da mais baixa classe não podem ser trocados”.
24. Zi lû perguntou qual a característica do homem superior. Disse o Mestre: "O cultivo de si mesmo com cuidado reverente”. “E é tudo?” Disse Zilû. "Cultiva-se a si mesmo para dar descanso aos demais”, foi a resposta. “E é tudo?” Perguntou Zilû. Disse o Mestre: “Cultiva a si mesmo para dar descanso ao povo. Cultiva-se a si mesmo para dar des­canso a todo o povo: até Yao e Shun se mostravam solícitos a esse respeito”.
25. Disse Confúcio: “Há três coisas que o homem superior evita. Jovem, quando as faculdades físicas não estão ainda assentadas, evita a luxúria. Quando já é forte e as faculdades físicas estão vigorosas, evita a petulância. Quando está velho, e as faculdades animais decaíram, evita a cobiça”.
26. Disse Confúcio: “Há três coisas que o homem superior reverencia com submissão. Reverencia com submissão as ordens do Céu. Reverencia com submissão os grandes homens. Reverencia com submissão a palavra dos sábios”.
27. “O homem inferior não conhece as leis do Céu e em conseqüência não as reverencia com submissão. É desrespeitoso para com os grandes homens. Zomba da palavra dos sábios”.
 28. Disse Confúcio: “Os que nasceram na posse do conheci­mento constituem a mais alta categoria dos homens. Os que aprendem e assim chegam depressa a possuir o conhecimento, estão logo a seguir. Os que são obtusos e estúpidos e não obstante limitam o estudo pertencem à classe subseqüente. E os que são obtusos e estúpidos e não obstante não aprendem são inferiores a todos”.
29. Disse Confúcio: “Há nove coisas que o homem superior submete a uma meditada consideração: com respeito ao uso de seus olhos, anseia por ver claramente. Com respeito ao uso de seus ouvidos, anseia por ouvir distintamente. Com respeito a seu comportamento, anseia por ser benigno. Com respeito à sua conduta, anseia por que seja sincera. Com respeito ao cumprimento do seu dever, anseia por ser reverentemente cuidadoso. Com respeito ao de que ele duvida, anseia por perguntar aos demais. Quando está aborrecido, pensa nas dificuldades (em que pode envolvê-lo seu aborrecimento). Quando vê que pode obter algum lucro, pensa na retidão”.
30. Disse o Mestre: “Aquele que exige muito de si mesmo e pouco dos demais, livrar-se-á de se converter em objeto de ressentimento”.
31. Disse o Mestre: “Quando um homem não tem o costume de perguntar a si mesmo: ‘que farei disto? Que pensarei daquilo?’, nada se pode fazer com ele”.
32. Disse o Mestre: “Quando um certo número de pessoas está junta, durante um dia inteiro sem que sua conversação se refira à retidão, ou quando lhes agrada falar das sugestões de uma pequena maldade, seu caso é certamente um caso difícil”.
33. Disse o Mestre: “O homem superior considera que a retidão é o essencial em tudo. Tudo realiza de acordo com as regras da correção. Leva-as a cabo humildemente. Realiza-as com sinceridade. Esse é, verdadeiramente, um homem su­perior”.
34. Disse o Mestre: “O homem superior se angustia por sua falta de capacidade. Não se aborrece porque os homens não o conheçam”.
35. Disse o Mestre: “Ao homem superior, aborrece pensar que seu nome não será mencionado depois de sua morte”.
36. Disse o Mestre: “Aquilo que o homem superior procura, procura-o em si mesmo. Aquilo que o homem inferior procura, procura-o nos outros”.
37. Disse o Mestre: “O homem superior é digno, mas não deblatera. É sociável, mas não parcial”.
38. Disse o Mestre: “O homem superior não eleva um homem simplesmente por suas palavras, não deixa de lado as boas palavras por causa do homem”.
39. Disse o Mestre: “As palavras especiais confundem a virtude. A falta de indulgência, nas pequenas coisas, confunde os grandes projetos”.
40. Disse o Mestre: “Quando a multidão odeia um homem, é necessário examinar o caso. Quando a multidão ama um homem, é necessário examinar o caso”.
41. Disse o Mestre: “Um homem pode engrandecer os princípios que segue: esses princípios não podem engrandecer o homem”.
41. Disse o Mestre: “Ter defeitos e não corrigi-los: eis o que é, verdadeiramente, ter defeitos”.
42. Disse o Mestre: “Passei o dia inteiro sem comer e a noite inteira sem dormir ocupado em pensar. Foi inútil. O melhor plano é instruir-se”.
43. Disse o Mestre: “O objetivo do homem superior é a verdade. O alimento não é seu objetivo. O homem superior não se inquieta por não poder alcançar a verdade. Não se inquieta pela pobreza que lhe possa sobrevir”.
44. Disse o Mestre: “Quando o conhecimento de um homem é suficiente para alcançar algo, e sua virtude não é suficiente para conservá-lo, qualquer coisa que obtenha perderá nova­mente”.
“Quando seu conhecimento é suficiente para alcançar algo e possui a virtude suficiente para conservá-lo, se não pode conservá-lo com dignidade, o povo não o respeitará”.
“Quando seu conhecimento é suficiente para conseguir algo e possui a virtude suficiente para conserva-lo”.
45. Quando governa também com dignidade, mas não obstante trata de levar o povo contra as leis do correio, não consegue a completa excelência”.
46. Disse o Mestre: “O homem superior não pode ser conhecido por pequenas coisas. Mas pode-se lhe confiar os assuntos importantes. Ao homem medíocre não se lhe podem confiar os grandes assuntos, mas pode ser conhecido pelas pequenas coisas”.
47. Disse o Mestre: “A virtude é para o homem mais do que a água ou o fogo. Vi morrer os homens por andarem na água ou no fogo, mas nunca vi morrer um homem por pisar o caminho da virtude”.
Disse o Mestre: “O homem deve considerar a virtude como algo que a ele mesmo incumbe. Não pode ceder seu desempenho nem sequer ao seu mestre”.
50. "Disse o Mestre: “Comer arroz ordinário, beber água e usar como almofada meu braço dobrado. Regozijam-me estas coisas. As riquezas e as honras injustamente adquiridas são para mim uma nuvem”.
51. Disse o Mestre: “Aquele que aspira a ser um homem de completa virtude não trata em sua comida de satisfazer seu apetite, nem trata em sua casa de rodear-se de comodidade. É sincero no que faz e cuidadoso no que diz. Frequenta homens de princípios, que podem corrigi-lo. De semelhante pessoa se pode certamente dizer que deseja aprender”.
52. Zi kung disse: “Que dizes do homem pobre que, no entanto, adula e do homem rico que não é orgulhoso?” Replicou o Mestre: “São bons, mas não iguais àquele, que pobre, é alegre e aos que, igualmente ricos, amam as regras da correção”. Zi kung replicou: “No Livro de Poesia se diz: “Assim como cortas e logo limas, assim talhas e logo esculpi”. O significado é o mesmo, segundo penso, daquilo que acabas de exprimir.
53. Disse o Mestre: “A extravagância leva à insubordinação e a parcimônia à humildade. É melhor ser humilde do que insubordinado”.
54. Disse o Mestre: “O homem superior mostra-se satisfeito e tranqüilo; o homem inferior está sempre cheio de angústia”.
55. Disse o Mestre: “Os que carecem de virtude não podem suportar por muito tempo uma situação de pobreza e de injustiça ou uma situação de prazer. O virtuoso descansa na virtude. O sábio deseja a virtude”.
56. Disse o Mestre: “Unicamente o homem verdadeiramente virtuoso pode amar ou odiar o próximo”.
57. Disse o Mestre: “Se se põe a vontade na virtude, não se praticará a maldade”.
58. Disse o Mestre: “Riquezas e honras são o que os homens desejam. Se não podem ser obtidos corretamente, não serão conservadas. Pobreza e humildade são o que os homens não desejam. Se não podem ser obtidas de modo correto, não serão evitadas”.
59. “Se um homem superior abandona a virtude, como pode cumprir os requisitos dessa condição?”.
“O homem superior não age contra a virtude sequer no decorrer de uma só refeição. Em momentos de dificuldade, ajusta-se a ela. Em época do perigo, ajusta-se a ela”.
60. Disse o Mestre: “Não vi ninguém que amasse a virtude nem ninguém que odiasse o que não era virtuoso. Aquele que ama a virtude considera que nada é superior a ela. Aquele que odeia o que não é virtuoso pratica a virtude de tal modo que não permite que se aproxime de sua pessoa ninguém que não seja virtuoso”.
“Haverá alguém capaz de aplicar, durante um dia inteiro, seu esforço à virtude? Não vi caso em que semelhante esforço fosse insuficiente”.
Ainda que se pudesse dar esse caso, eu não o vi”.
61. Disse o Mestre:  “Os defeitos dos homens são característicos da classe a que pertencem. Observando os defeitos do homem pode-se saber se é virtuoso”.
62. Disse o Mestre: “Se um homem conhece de manhã o bom caminho, de noite pode morrer sem mágoa”.
63. Disse o Mestre: “Se um homem douto cuja inteligência ataca a verdade e se envergonha pelas roupas pobres e pela má comida, não é digno de que se fale com ele”.
64. Disse o Mestre: “O homem superior, no mundo, não põe sua inteligência a favor nem contra nada, cingindo-se ao que é justo”.
65. Disse o Mestre: “O homem superior pensa na virtude. o homem inferior pensa na comodidade. O homem superior pensa nas sanções da lei. O homem inferior pensa nos favores que pode receber”.
Disse o Mestre: “Quando vemos homens dignos devemos pensar em igualá-los. Quando vemos homens de caráter oposto devemos olhar para dentro de nós e examinarmo-nos a nós mesmos”.
66. Disse o Mestre: “A mente do homem superior preocupa­-se com a retidão. A mente do homem inferior preocupa-se com o proveito”.
67. Disse o Mestre: “O homem superior deseja ser pausado em seu falar e sincero em sua conduta”.
68. Disse o Mestre: “À virtude, não lhe deixam estar só. Aquele que a pratica terá vizinhos”.
Há três princípios de conduta que o homem de alta cate­goria deve considerar especialmente como importantes: que em seu porte e maneiras se afaste da violência e da imprudência; que na ordenação de seu semblante se aproxime da sinceridade; e que em suas palavras e no tom de sua voz se abstenha de baixas e impropriedades. E para assuntos com o de servir os vasos do sacrifício, há funcionários apropriados.
69. Disse o Mestre: “Quem não pode sair a não ser pela porta? Como é que os homens não querem andar de acordo com esses caminhos?”
70. Disse o Mestre: “Onde as qualidades sólidas se excedem em realizações, temos a rusticidade. Quando as realizações se excedem em qualidades sólidas, temos os modos de um criado. Quando se misturam igualmente as realizações e as qualidades sólidas, temos o homem virtuoso”.
71. Disse o Mestre: “O homem nasceu para a retidão. Se um homem perde sua retidão e não obstante continua vivendo, o escapar à morte é simples questão de sorte”.
72. Disse o Mestre: “Aquele que exerce o governo por meio de sua virtude pode ser comparado à estrela polar que ocupa seu posto e todas as demais estrelas giram em redor”.
73. “O plano do Céu na produção da humanidade é este: aqueles que primeiro se informam devem instruir aos que se demoram em informar-se; e os que primeiro compreendem deve instruir aos que  são mais lentos em compreender. Eu sou um dos filhos do Céu que primeiro compreendi. Devo tomar esses princípios e com eles instruir o povo. Se não o instruo, quem o fará?”
74. Zi chang perguntou a Confúcio: “De que modo deve agir uma pessoa que  tem autoridade para que possa dirigir devidamente o governo?” Replicou o Mestre: “Deixa-o honrar as cinco coisas excelentes e desterrar as quatro coisas más, e ele poderá conduzir devidamente o governo”. Zi chang perguntou: “Que queres dizer com — cinco coisas excelentes?” Disse o Mestre: “Quando a pessoa dotada de autoridade é benéfica sem grandes gastos; quando impõe ao povo tarefas de que este não se queixa; quando procura con­seguir o que deseja, sem ser ambicioso; quando defende uma causa digna, sem ser orgulhoso; quando é majestático sem ser violento”.
75. Zi chang perguntou: “Que quer dizer ser benéfico sem grandes despesas?” Disse o Mestre: “Quando a pessoa dotada de autoridade torna mais benéficas para o povo as coisas das quais naturalmente derivam benefícios, não está sendo benéfica sem grandes despesas? Quando escolhe os trabalhos que são próprios e neles faz o povo trabalhar, quem se queixará? Quando seus desejos se referem ao governo benévolo e o asseguram, quem o acusará de ambição? Tenha que se entender com poucas ou com muitas pessoas, para grandes ou pequenos assuntos, não se atreve a mostrar falta de respeito, não será isso manter uma naturalidade digna, sem orgulho? Veste a roupa e o barrete adequados e seu olhar tem dignidade, de modo que assim dignificado é visto sem temor; não será isso ser majestático sem ser violento? ”
76. Zi chang então perguntou: “Que queres dizer com — as quatro coisas más?” Disse o Mestre: “Matar as criaturas sem tê-las instruído, é o que se chama crueldade. Exigir delas, imediatamente, o máximo de trabalho sem tê-las advertido, isto se chama opressão. Dar ordens como se não tivessem urgência, a principio, e quando chega o momento insistir nelas com severidade, isto se chama dano. E de modo geral, conceder recompensas aos homens, de modo mesquinho, isto se chama desempenhar o papel de simples funcionário”.
77. Disse o Mestre: “Sem reconhecer as leis do Céu é impossível ser um homem superior”.
“Sem ter conhecimento das regras da Correção é impossível demonstrar caráter”.
“Sem conhecer a força das palavras é impossível conhecer os homens”.
78. Zi chang estava para conseguir um emprego oficial.
Disse o Mestre: “Ouve muito e deixa de lado os pontos de que duvides, enquanto ao mesmo tempo fala prudentemente dos outros. Assim terás poucas ocasiões de te culpares. Vê muito e deixa de lado as coisas que parecem perigosas, en­quanto ao mesmo tempo serás cauto ao levar à prática. Assim terás poucas ocasiões de te arrependeres. Quando se dão poucas ocasiões de censurar suas palavras e poucas ocasiões de arrepender-se por sua conduta, está-se a caminho de conseguir proventos”.
79. Alguém se dirigiu a Confúcio, dizendo: “Senhor, por que te ocupas do governo?”
Disse o Mestre: “Que diz o Shu jing da piedade filial?” “Sê filial, cumpre teus deveres de irmão. Essas qualidades se manifestam no governo. Portanto, isso constitui o exercício do governo”.
80. Disse o Mestre: “Antigamente os homens tinham três defeitos que  talvez agora não se encontrem mais.
“A alta mentalidade da Antigüidade manifestava-se na despreocupação pelas coisas pequenas. A alta mentalidade em nossos dias manifesta-se pela desenfreada libertinagem. A austera dignidade na Antigüidade se manifestava por grave reserva. A austera dignidade em nossos dias manifesta-se por uma perversidade litigiosa. A simplicidade da Antigüidade se manifestava na honradez. A simplicidade dos nossos dias manifesta-se no completo engano”.
81. Disse o Mestre: “As belas palavras e a aparência insinuante raras vezes se associam à virtude”.
Disse o Mestre: “Odeio a maneira pela qual a púrpura substitui o brilho do vermelhão. Odeio o modo pelo qual as canções de Chang desconcertam a música do Ya. Odeio aos que com suas bocas mordazes derribam os reinos e as famílias”.
Disse o Mestre: “Preferia não falar”.
82. Zi kung perguntou: “Se tu não falas, Mestre, que poderemos ouvir nós, os teus discípulos?”
Disse o mestre: “O Céu fala? As quatro estações seguem seu curso e todas as coisas se produzem continuamente. Mas o Céu, diz o Céu alguma coisa?”
83. Disse o Mestre: “O homem superior trata de aperfeiçoar as qualidades admiráveis dos homens e não trata de aperfeiçoar suas más qualidades. O homem inferior faz exatamente o contrário”.
84. Chi Kang perguntou a Confúcio sobre o governo. Confúcio replicou: “Governar significa corrigir. Se guiares o povo com correção, quem se atreverá a não ser correto?”
85. Chi Kang, aflito com o número de ladrões existentes no Estado, perguntou a Confúcio como poderia suprimi-los. Confúcio disse: “‘Se tu, Senhor, não fosses ambicioso, ainda que os recompensasses para fazê-lo, não roubariam”.
86. Chi Kang perguntou a Confúcio sobre o governo: “Que te parece a ato de matar os que não têm princípios, para o bem dos que os têm?” Replicou Confúcio: “Senhor: no desempenho de teu governo, por que hás de ter necessidade de matar? Procura que  teus desejos sejam bons, e o povo será bom. A relação entre superiores e inferiores é como a que existe entre o vento e a erva. A erva tem que se inclinar quando o vento sopra sobre ela”.
87. Fan Chih perguntou sobre a benevolência. Disse o Mestre: “Consiste em amar todos os homens”. Perguntou sobre o conhecimento. Disse o Mestre: “Consiste em conhecer todos os homens”.
88. Fan Chih não compreendeu imediatamente essas respostas.
Disse o Mestre: “Emprega o honrado e deixa de lado os solertes; assim os solertes podem chegar a ser honrados”.
89. Fan Chih retirou-se e vendo Zi xia, disse: “Faz pou­co tive um encontro com nosso Mestre e o interroguei sobre o conhecimento. Ele disse: “emprega o honrado e deixa de lado os solertes, assim os solertes podem chegar a ser hon­rados”. Que  quis dizer com isso?”
Zi xia disse: Essa máxima é verdadeiramente rica!”
90. “Estando Shun de posse do reino, faz uma seleção entre todos os cidadãos e empregou I Yin: todos os que estavam desprovidas de virtude desapareceram”.
91. Sendo Zi xia governador de Chufu, perguntou sobre o governo. Disse o Mestre: “Não desejes que as coisas se façam conscienciosamente. Fixar-se nas pequenas vantagens. Desejar que as coisas se façam rapidamente impede que se façam conscienciosamente. Fixar-se nas pequenas vantagens impede que  se realizem as grandes empresas”.
92. O duque de Shi informou a Confúcio: "Entre nós há os que podem ser chamados honrados em sua conduta. Se seu pai roubou uma ovelha, eles darão testemunha desse ato”.
Confúcio disse: “Entre nós, em nossa parte do país, os honrados agem de outro modo. O pai oculta a má conduta do filho e o filho oculta a má conduta do pai. A honradez con­siste em agir assim”.
93. Zi lû disse: “O duque de Hui mandou matar seu irmão Chu quando Shao Hu morreu com seu mestre, mas Zhan Chung não morreu. Não posso dizer que carecia de virtude?”
Disse o Mestre: “O duque de Hui reuniu todos os príncipes e não mediante armas de guerra. Tudo fez graças à influência de Zhan Chung? Que valor foi igual ao seu?”

94. Zi kung disse: "Em minha opinião, Zhan Chung carecia de virtude. Quando o duque de Hui mandou matar seu irmão Chu, Zhan Chung não foi capaz de morrer com ele. Além disso, chegou a ser primeiro ministro de Zhan”.
Disse o Mestre: “Zhan Chung agiu como primeiro ministro do duque de Hui, fê-lo chefe de todos os príncipes, unificou e corrigiu todo o reino. Desde então, até os nossos dias, o povo desfruta os dons que ele lhe outorgou. Se não fosse Zhan Chung, nós andaríamos agora de cabelos soltos e nossas blusas abotoadas à esquerda”.
95. "Queres exigir dele a pequena fidelidade dos homens e mulheres vulgares que se teriam suicidado num rio ou num fosso e ninguém mais teria falado deles?”
96. Disse o Mestre: “Mang Chih-fan não se jacta de um mérito. Achando-se na retaguarda durante uma retirada, quando estavam a ponto de entrar na cidade, montou a cavalo dizendo: “Não é que  me atreva a ir por último. É que o meu cavalo anda devagar” ”.
97. “Dos cinco chefes, o mais poderoso era o duque de Hui. Na assembléia dos príncipes reunidos, amarrou uma vitima e sobre ela colocou um escrito, mas não a matou para manchar seus lábios com o sangue. O primeiro mandamento de seu pacto foi: “Dar morte ao que não é filial. Não mudar o filho escolhido para herdeiro. Não elevar a concubina à categoria de esposa. O segundo era: “Honrar o digno, apoiar o homem de talento, distinguir o virtuoso”. O terceiro era: “Respeitar o velho, ser bondoso com o jovem. Não esquecer os estrangeiros e os viajantes”. O quarto era: “Que os em­pregos públicos não sejam hereditários, que não sejam acumuladores os funcionários. Na seleção de funcionários, seja cada emprego desempenhado pelos homens adequados. O governante não deve tomar a seu cargo a morte de um Alto Fun­cionário”. O quinto era: “Não seguir uma política desonesta na construção de represas. Não impor restrições à venda de cereais. Que não haja promoções sem primeiro anunciá-las ao soberano”. Então se disse: “Todos os que nos unirmos neste pacto manteremos doravante relações amistosas”. Todos os príncipes de nossos dias violam essas cinco proibições; portanto digo que os príncipes de nossos dias pecam contra os cinco chefes.
“O crime daquele que tolera e ajuda a maldade do seu príncipe é pequeno, mas grande é o crime de quem se antecipa e exalta essa maldade. Os funcionários de nossos dias saem ao encontro da maldade de seus soberanos e por isso digo que pecam contra os príncipes”.
98. Disse Confúcio: “Há três amizades que são vantajosas e três que são prejudiciais. A amizade com o honrado, a ami­zade com o sincero e a amizade com o homem muito observador são vantajosas. A amizade com o homem de aspecto apa­rentemente plausível, a amizade com o insinuantemente maleá­vel e a amizade com o incontinente no falar são prejudiciais”. Disse Confúcio: “Há três coisas nas quais o homem encon­tram prazer, que lhes dá proveito, e três coisas nas quais en­contram prazer, que lhes traz prejuízo. Encontrar prazer no estudo consciencioso do cerimonial e da música, encontrar pra­zer em falar da bondade dos outros, encontrar prazer em ter muitos amigos dignos, são coisas vantajosas. Encontrar pra­zer em prazeres extravagantes encontrar prazer na ociosidade e na disponibilidade, encontrar prazer nos prazeres dos banquetes, são coisas prejudiciais”.
99. Alguém disse: “Que dizes acerca do princípio segundo o qual o mal deve ser recompensado com a bondade?”
Disse o Mestre: “Com que recompensarás, então, a bon­dade?”
“Recompensa o mal com justiça e a bondade com bon­dade?”
100. Disse o Mestre: “Um jovem deve ser considerado com respeito. Como sabemos que seu futuro não será igual ao presente? Se chegar à idade dos quarenta ou cinqüenta anos e não se deu a conhecer, então, certamente não será digno do respeito com que devemos considerá-lo”.
101. Disse o Mestre: “Podem os homens negar-se a aceitar as palavras de estrita advertência? O que vale é reformarem sua conduta por causa delas. Podem os homens negar-se se satisfazer com as palavras de cortês advertência? O valioso não é isso, e sim o que revelarem seu propósito. Se um homem se satisfizesse com essas palavras, mas não revelasse seu propósito, e concordasse com elas e não reformasse sua conduta, realmente nada poderia eu fazer com ele”.
102. Disse o Mestre: “Considerai a felicidade e a sinceridade como  princípios fundamentais. Não tenhais amigos que não sejam iguais à vós. Quando tiverdes defeitos, não temais abandoná-los”.
Disse o Mestre: “O comandante das forças de um grande estado pode ser destituído, mas não se pode privar de sua vontade um simples homem comum”.
103. Disse o Mestre: “Quando o ano se torna frio sabemos como o pinheiro e o cipreste são os últimos a perder as folhas”.
104. Disse o Mestre: “Os sábios estão livres de perplexidades, os virtuosos de ansiedades e os audaciosos de medo”.
105. Disse o Mestre: Não faça ao próximo o que não quer que façam com você.
106. Disse o Mestre: ame a todos, sem distinção. Isso é Humanismo.
107. Zi lû perguntou: “O homem superior aprecia o valor?” Disse o Mestre: “O homem superior afirma que a retidão é o que tem importância. Um homem que se acha em situação superior e que possui valor sem retidão, será culpado de insubordinação. Um homem da classe mais humilde, que possui valor sem retidão, roubará”.
108. Disse Zi kung: “O homem superior também tem seus ódios?” Disse o Mestre: “Tem seus ódios. Odeia aqueles que proclamam o mal dos outros. Odeia o homem que, ocupando um posto inferior, calunia os seus superiores. Odeia os que têm simplesmente valor, mas não observam a correção. Odeia os que são audazes e decididos e, ao mesmo tempo, têm inteligência escassa”.
109. Disse o Mestre: “Os que conhecem a verdade não são iguais aos que amam e os que amam não são iguais aos que com ela se comprazem”.
110. Zi lu consegui que Zi Zhou fosse designado governa­dor de Pi.
Disse o Mestre: “Prejudicas o filho de um homem”.
Zi lu disse: “Ali há gente comum e funcionários; há altares dos espíritos da terra e do cereal. Por que deve alguém ler nos livros antes que se possa dizer que já aprendeu?”
Disse o Mestre: “Por isso odeio teu povo charlatão”.
111. Zi lu, Cang shi, Zan e Yu e Kung-xi Hua estavam sentados junto ao Mestre.
Este lhes disse: “Ainda que eu seja cerca de um dia mais velho do que vós, não penseis nisso”.
Todo dia dizeis: “Não somos conhecidos”. Se algum governante os conhecesse, que gostaríeis de fazer?”
Zi lu respondeu rápida e claramente: “Supõe o caso de um Estado de dez mil carruagens, comprimido entre outros grandes Estados, suportando exércitos invasores e padecendo fome por falta de trigo e de toda espécie de vegetais. Se me confiassem o governo desse povo, em três anos poderia conse­guir que o povo se mostrasse valente e reconhecesse as regras da conduta correta”. O Mestre sorriu.
Voltando-se para Yen Yû, disse-lhe: “Qiu, quais são teus desejos?” Qiu respondeu: “Supõe um Estado de sessenta ou setenta li quadrados e deixa que eu o governe. Em três anos poderia fazer com que reinasse a abundância entre o povo. Quanto a lhes ensinar os princípios de correção e da música, devo esperar que surja um homem superior que lhe ensine”.
“Quais são teus desejos, Xi?”, perguntou o Mestre a Kung-xi Hua. Xi respondeu: “Eu não digo que minha capacidade se estenda a essas coisas, mas quisera aprendê-las. Nos serviços do templo ancestral e nas audiências dos príncipes com o soberano, eu gostaria, vestido com a obscura túnica quadrangular e com o negro barrete de pano, agir como um simples pequeno ajudante”.
Finalmente, o Mestre perguntou a Cang Xî: “Tien, que é que desejas?” Tien, deixando de tocar o alaúde, embora continuasse a dedilhar as cordas, pôs de lado o instrumento e levantou-se: “Meus desejos — disse — são diferentes dos que alimentam esses três”. “Que mal há nisso? Perguntou o Mestre. Expões tu também teus desejos, como eles fizeram”. En­tão disse Tien: “Neste último mês da primavera, com todos os adornos da estação, juntamente com cinco ou seis jovens e seis ou sete meninos, quisera banhar-me no Yi, gozar a brisa entre as árvores e voltar para casa cantando”. O Mestre sus­pirou e disse: “Aprovo Tien”.
112. Xi prosseguiu: “Mestre, por que sorriste quando Yu falou?”
Respondeu-lhe o Mestre: “O governo de um Estado exige as regras da correção. Suas palavras não eram  humildes, por isso sorri”.
Xi continuou: “Mas não era um Estado o que Qi propunha para si mesmo?” Foi esta a resposta: “Sim. Viste alguma vez um  território de sessenta ou setenta li, ou um  de cinqüenta ou sessenta, que não fosse um  Estado?”
113. Ainda uma vez perguntou Xi: “E não era um Estado o que Q propunha para si mesmo?” O Mestre respondeu novamente: “Sim, quem senão os príncipes têm que ver com os templos ancestrais e quem, senão os soberanos, têm que ver com as audiências? Se Qi tivesse de ser um pequeno ajudante nesses serviços, quem  poderia ser grande ajudante?”